10. NARCISO SOBRE RODAS

(Carlos Tê/ Hélder Gonçalves)


Ainda me lembro de ti
Tão cheio de ti mesmo
Passeando a tua esfinge
De príncipe de alta casta
Alguém que já nem finge
Que amar-se a si mesmo basta


Havia sempre alguém
A prestar vassalagem
E a render-se à tua imagem
De Narciso bem penteado
Tirando da garagem
Um coração cromado


Julgavas que a vida era
Um chevrolé vermelho
E a beleza bastava
Para seres dono do lago
Mas quebrou-se o espelho
Não aguentaste o estrago


E eu que verti uma lágrima
Por não merecer o teu olhar
Pergunto a mim mesmo
Como pude um dia por ti chorar 
 
 
Narciso sobre rodas vai


E agora ao encontrar-te
Pergunto a mim mesmo
Como pude um dia sequer amar-te


E agora ao encontrar-te
Pergunto a mim mesmo
Como pude sequer amar-te