11. SEM FREIO

(Carlos Tê/ Hélder Gonçalves)


como garranos num prado
como crianças no recreio
sem culpa sem pecado
sem decoro nem asseio


como cometas lustrosos
numa overdose de luz
como dois cristos formosos
juntos e ao vivo na cruz


fomos amantes sem freio
na curva dos dias
derrapando sem receio
na triste curva dos dias


como um poente na praia
em queda livre de Outono
como o dançarino da noite
cheio de fumo e de sono


como o sonho adolescente
que embate no mar real
e deixa a paixão ardente
perdida no areal


fomos amantes sem freio
na curva dos dias
derrapando sem receio
na triste curva dos dias


como o acto teatral
da peça que tudo diz
um Shakespeare total
onde ninguém fica infeliz


se assim se anuncia o fim
acabar é então o preço
só a tragédia é bonita
só ela traz outro começo


fomos amantes sem freio
na curva dos dias
derrapando sem receio
na triste curva dos dias