03. AMIGOS DE QUEM

(Manel Cruz/ H. Gonçalves)


lá voltaste a puxar pra ti o lençol
como que a privar meus sonhos do último raio de sol
amigos são sobras do tempo
que enrolam seu tempo à espera de ver
o que não existe acontecer


mas teimas em riscar o fim do meu chão
nunca medes a distância
dos passos à razão
meus votos são claros na forma
desejo-te o mesmo que guardo pra mim
e o que não existe não tem fim


é só dizer e volto a mergulhar
voltar a ler não é morrer é procurar
não vai doer mais do que andar assim a fugir
deixa-te entrar para tentar ou destruir


mas quem te ouviu falar
pensou tudo vai bem
só que alguém vestiu a pele
que nunca serve a ninguém
e a dúvida está do meu lado
mas eu não consigo olhá-la e achar
ser esse o lado em que ela deve estar


erguemos um grande castelo
mas não nos lembramos bem para quem
e essa é a verdade que se vê
é só dizer e volto a mergulhar
voltar a ler não é morrer é procurar
não vai doer mais do que andar assim a fugir
deixa-te entrar para tentar ou destruir
mas sem fingir
sem fingir
sem desistir